Sempre acompanho, atenta e preocupadamente, as notícias e os índices relativos às notificações de incidentes de segurança, especialmente se voltadas para o Brasil.
Aliás, o CERT.br (Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança) tem estatísticas muito bem elaboradas sobre isso desde 1999, divulgando-as a cada trimestre (é claro que o aprimoramento vem a cada ano). Na última palestra que ministrei sobre o assunto utilizei bastante material disponibilizado no site, neste link.
Caso considerássemos o primeiro ano de coleta das informações, 1999 – veja tabela do CERT acima –, quando apenas 3107 incidentes foram notificados, chegaríamos hoje a uma porcentagem astronômica de crescimento das notificações. No entanto, o crescimento de 61% do ano de 2008 para 2009 já é bastante preocupante.
Mas o interessante mesmo é fazer uma análise, mesmo que só de 2008 e 2009, nos “tipos de ataque” reportados ao CERT, pois houve um aumento substancial no número de “fraudes” (categoria que engloba as notificações de tentativas de fraudes, ou seja, de incidentes em que ocorre uma tentativa de obter vantagem.), as quais representam quase 70% das 358.343 notificações, com um crescimento de 79% em relação ao ano anterior. Veja as imagens abaixo e a tabela com os valores totais aqui:
Outros aspectos interessantes dos dados estatísticos divulgados pelo CERT.br:
a) As notificações sobre cavalos de tróia reduziram em 23% em relação a 2008 e correspondem a 8,79% das fraudes;
b) Houve um crescimento das notificações de eventuais quebras de direitos autorais, que chegaram a 220.933 no ano (88,25% das fraudes), correspondendo a um crescimento de 104% em relação ao ano anterior;
c) Também ocorreu um número significativo de de notificações de páginas falsas de bancos, sofrendo um aumento de 112% em 2009 (porém, apenas 2,5% das fraudes notificadas);
d) As notificações relativas a varreduras (scans) totalizaram 52.114, um aumento de 19% se comparado ao ano anterior;
e) Dentro dos scans, as varreduras envolvendo a porta TCP 25 (SMTP 25/TCP), que no ano anterior representavam 5% do total, em 2009 subiram para 18% (embora esta não seja a porta mais escaneada, pois os scans sobre a porta 22/TCP representam 44,67% dos incidentes notificados);
Agora, importante mencionar alguns outros dados, digamos “temporais” e “espaciais”, que chamam a atenção:
1) Os meses de janeiro e fevereiro de 2009 foram campeões em encaminhamento de incidentes ao CERT.br. A partir de julho não houve mais do que 10.000 notificações/mês. Veja o quadro;
2) Relativamente ao dia da semana, a grande maioria dos incidentes foi notificado nas segundas, quartas e quintas-feiras, havendo um percentual bastante baixo nos sábados e domingos. Veja o quadro;
3) 82,27% dos ataques reportados têm origem no Brasil, que é seguido de EUA (4,41%), China (3,24%), Peru (0,87%) e Coréia do Sul (0,80%). Veja o quadro completo aqui.
Mas, afinal, o que estes dados representam?
Os dados são preocupantes, pois que, quantitativamente, revelam um crescimento, até mais do que natural, das notificações. Se fossemos levar em conta o crescimento dos usuários da internet no Brasil em um patamar de 10 a 15%, a projeção natural, salvo um juízo mais crítico e correto, das notificações seria nesse patamar, tal qual vinha ocorrendo nos anos anteriores. Ou, até uma diminuição, a exemplo de 2007!
De outro lado, o crescimento em 61% das notificações de incidentes não revela, necessariamente, o crescimento no mesmo patamar dos crimes virtuais – sobre os quais, aliás, não se tem dados estatísticos, senão os divulgados pelo Safernet, através dos “indicadores”.
Justifico minha afirmação: em uma grande parte das notificações o crime virtual sequer chega a ocorrer, como por exemplo os casos dos cavalos de tróia, pois que as pessoas que encaminham os dados ao CERT têm o conhecimento necessário e evitam ser vítimas dos criminosos virtuais. De outro lado, uma imensa maioria das vítimas de fraudes eletrônicas bancárias sequer chega a comunicar o incidente ao CERT e tão somente ao estabelecimento bancário do qual é cliente.
Assim, uma análise completa a respeito dos crimes virtuais deve abranger não só os aspectos quantitativos divulgados pelo CERT.br (muito importantes, por sinal), mas, também, os colhidos pelos sistema bancário, Safernet, outros centros e grupos de respostas aos incidentes de segurança, além dos dados quali e quantitativos dos órgãos policiais.
A criação, em todos os Estados, de órgãos especializados ajudaria a estabelecermos uma quantificação de vitimas e autores nos crimes cibernéticos. Usei o termo “ajudaria”, pois ainda assim teremos uma cifra negra (casos de subnotificação ou omissão de notificação às autoriades policiais) bastante grande.
Bom, por ora acabaram-se os argumentos, mas sei que vários que lêem o blog e que têm suas opiniões sobre o assunto vão dar seus pitacos através de comentários/opiniões, seja aqui no blog seja no twitter.
Outros aspectos interessantes dos dados estatísticos divulgados pelo CERT.br:
a) As notificações sobre cavalos de tróia reduziram em 23% em relação a 2008 e correspondem a 8,79% das fraudes;
b) Houve um crescimento das notificações de eventuais quebras de direitos autorais, que chegaram a 220.933 no ano (88,25% das fraudes), correspondendo a um crescimento de 104% em relação ao ano anterior;
c) Também ocorreu um número significativo de de notificações de páginas falsas de bancos, sofrendo um aumento de 112% em 2009 (porém, apenas 2,5% das fraudes notificadas);
d) As notificações relativas a varreduras (scans) totalizaram 52.114, um aumento de 19% se comparado ao ano anterior;
e) Dentro dos scans, as varreduras envolvendo a porta TCP 25 (SMTP 25/TCP), que no ano anterior representavam 5% do total, em 2009 subiram para 18% (embora esta não seja a porta mais escaneada, pois os scans sobre a porta 22/TCP representam 44,67% dos incidentes notificados);
Agora, importante mencionar alguns outros dados, digamos “temporais” e “espaciais”, que chamam a atenção:
1) Os meses de janeiro e fevereiro de 2009 foram campeões em encaminhamento de incidentes ao CERT.br. A partir de julho não houve mais do que 10.000 notificações/mês. Veja o quadro;
2) Relativamente ao dia da semana, a grande maioria dos incidentes foi notificado nas segundas, quartas e quintas-feiras, havendo um percentual bastante baixo nos sábados e domingos. Veja o quadro;
3) 82,27% dos ataques reportados têm origem no Brasil, que é seguido de EUA (4,41%), China (3,24%), Peru (0,87%) e Coréia do Sul (0,80%). Veja o quadro completo aqui.
Mas, afinal, o que estes dados representam?
Os dados são preocupantes, pois que, quantitativamente, revelam um crescimento, até mais do que natural, das notificações. Se fossemos levar em conta o crescimento dos usuários da internet no Brasil em um patamar de 10 a 15%, a projeção natural, salvo um juízo mais crítico e correto, das notificações seria nesse patamar, tal qual vinha ocorrendo nos anos anteriores. Ou, até uma diminuição, a exemplo de 2007!
De outro lado, o crescimento em 61% das notificações de incidentes não revela, necessariamente, o crescimento no mesmo patamar dos crimes virtuais – sobre os quais, aliás, não se tem dados estatísticos, senão os divulgados pelo Safernet, através dos “indicadores”.
Justifico minha afirmação: em uma grande parte das notificações o crime virtual sequer chega a ocorrer, como por exemplo os casos dos cavalos de tróia, pois que as pessoas que encaminham os dados ao CERT têm o conhecimento necessário e evitam ser vítimas dos criminosos virtuais. De outro lado, uma imensa maioria das vítimas de fraudes eletrônicas bancárias sequer chega a comunicar o incidente ao CERT e tão somente ao estabelecimento bancário do qual é cliente.
Assim, uma análise completa a respeito dos crimes virtuais deve abranger não só os aspectos quantitativos divulgados pelo CERT.br (muito importantes, por sinal), mas, também, os colhidos pelos sistema bancário, Safernet, outros centros e grupos de respostas aos incidentes de segurança, além dos dados quali e quantitativos dos órgãos policiais.
A criação, em todos os Estados, de órgãos especializados ajudaria a estabelecermos uma quantificação de vitimas e autores nos crimes cibernéticos. Usei o termo “ajudaria”, pois ainda assim teremos uma cifra negra (casos de subnotificação ou omissão de notificação às autoriades policiais) bastante grande.
Bom, por ora acabaram-se os argumentos, mas sei que vários que lêem o blog e que têm suas opiniões sobre o assunto vão dar seus pitacos através de comentários/opiniões, seja aqui no blog seja no twitter.
- Obs. 1: Você pode ler reportagem do site Convergência Digital aqui, principalmente no que se refere aos SPAMs, não referidos neste post;
- Obs. 2: Por sugestão do Dr. Omar Kaminski, através do Twitter, do site Internet Legal, estou indicando o link para os dados estatísticos do CAIS/RNP, porém os dados não estão atualizados para 2009.
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