Sorria, você é espionado
O Social Network Analysis é um dos muitos softwares usados por empresas para vasculharem a rede para criar perfis de comportamento de usuários (inclusive de você)
Por RITA lOIOLA - Revista Galileu
Sua vida virtual é vigiada. Eles sabem seu endereço, o nome da sua mãe, quanto você gasta em compras, quem são seus vizinhos e até quanto tempo você passa no telefone. “Eles” são sua seguradora, seu supermercado, sua companhia de celular e qualquer outra empresa que trabalhe com dados que viajam pelo espaço. Afinal, como um cartão de crédito sem tarifas chega sozinho na porta da sua casa? “Todo mundo é monitorado”, diz Rui Bueno, especialista em inteligência de negócios do SAS, multinacional de inteligência analítica. “A questão é que nem todas as informações disponíveis são interessantes e as legislações nacionais às vezes proíbem certas ações. Mas qualquer informação virtual pode ser rastreada.”
Outro problema para seus dados serem usados é que, simplesmente, eles são muitos. Selecionar o que é importante virou tarefa para empresas com especializadas em análise de dados, com sistemas refinados de pesquisa. O último dos programas para decompor a vida virtual dos indivíduos foi lançado em meados desse ano pela SAS. Chama Análise de Redes Sociais (Social Network Analysis) e seu princípio é a premissa matemática clássica de que todas as pessoas estão interligadas, mas afastadas por apenas seis graus. A análise das informações é feita filtrando as pessoas em grupos por afinidades. Pode ser endereço, preferências, idade, telefone, sites que visita.
Com essas informações, são identificados os papéis sociais de cada um no conjunto, como líderes e seguidores. “O modelo matemático que criamos mede o grau de influência de uma pessoa para outra”, afirma Rui. “A ideia é mapear o perfil, principalmente do líder desses grupos virtuais, detectar os padrões e prever comportamentos.” Assim se, por acaso, o seu perfil bate com o de uma pessoa, digamos, que enrola a seguradora do carro, você vai ser olhado de outra forma pelo seu corretor de seguros – mesmo que você seja honestíssimo. “As pessoas são moldadas por suas relações, e o sistema apenas transforma isso em matemática”, diz Rui.
Mas e se fosse possível apagar alguns desses dados, como o proposto pelo empresa Tele2, da Suécia? Em maio, os proprietários de um dos maiores provedores de serviços para internet do país decidiram apagar a identificação dos clientes. A polícia não gostou e abriu-se um amplo debate sobre privacidade na internet. Há alguns anos, programas como o Browzar ajudam a apagar os rastros da internet – ou pelo menos do computador, dificultando a ação de invasores virtuais. Mas isso ainda não impede que dados bancários ou aquele CPF necessário em qualquer atendimento telefônico vagueiem por aí.
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