Assim funciona o golpe nigeriano ou “fraude do pagamento antecipado”, realizado internacionalmente por africanos e aplicado no Brasil, geralmente por telefone, com algumas peculiaridades. Conheça as características desse tipo de fraude na coluna Segurança para o PC de hoje.
Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados, etc), vá até o fim da reportagem e utilize a seção de comentários. A coluna responde perguntas deixadas por leitores todas as quartas-feiras.
>>> SMS e telefone: as falsas premiações
Depois do falso sequestro, premiações falsas que exigem pagamento antecipado são algumas das mais comuns no país.
Nessa modalidade da fraude – a mais comum do gênero “nigeriano” no Brasil, em qualquer meio – os criminosos entram em contato com a vítima por SMS ou telefone. A vítima é informada que ganhou um prêmio – talvez um caminhão de prêmios, um carro ou até uma casa. Nomes de emissoras de televisão ou mesmo premiações verdadeiras (que acontecem ou já aconteceram) são usadas para adicionar credibilidade à mensagem.
No caso dos golpes por SMS, um número de telefone é informado no final da mensagem, para que o receptor ligue e se informe sobre a premiação.
“Quando a vítima entra em contato, ela é orientada a depositar algum valor referente ao transporte do produto ou outros custos”, explica o delegado Emerson Wendt, da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Os criminosos fazem uso de engenharia social (truques de enganação e persuasão) para convencer a vítima, no telefone, de que ela foi mesmo premiada e que tudo estará resolvido após realizado o pagamento.
O prêmio não existe, é claro – quem chegar ao ponto de pagar na esperança de receber qualquer coisa terá sido roubado. Daí o nome de “fraude do pagamento antecipado”. Para adicionar pressão, os criminosos podem impor um limite de tempo para que o dinheiro seja depositado, impedindo que a vítima consiga pensar muito sobre o caso.
Segundo Wendt, esse é um dos golpes mais comuns no Brasil realizado por telefone, perdendo apenas para o falso sequestro. A prática, ainda de acordo com o delegado, se enquadra como estelionato.
>>> O “golpe nigeriano” e a atuação no Brasil
Esse tipo de fraude é tão comum na África, e principalmente na Nigéria, que ficou conhecida como “fraude nigeriana” ou “fraude 419”, porque 419 é o artigo da legislação nigeriana que trata de estelionato.
Devido à natureza da fraude, algumas pessoas se sentem envergonhadas por terem caído no “conto” e não denunciam o crime à polícia, o que dificulta a ação das autoridades nesses casos.
Em 2005, os golpistas receberam o prêmio IgNobel de Literatura (uma paródia do prêmio Nobel) em reconhecimento à criatividade dos nigerianos que “usam e-mail para distribuir uma série de histórias curtas, introduzindo milhões de leitores a ricos personagens”.
Como na versão brasileira, a vítima é orientada a fazer algum pagamento – normalmente uma taxa bancária para realizar a transferência. Mas os nigerianos não param por aí: se a vítima pagar, eles continuarão gerando novos “problemas” que necessitam da cooperação da vítima. Em alguns casos, esta cooperação não é apenas financeira – a vítima pode ser orientada a falsificar cheques, notas, comprovantes e outros documentos.
No fim do golpe (depois de milhares de dólares perdidos), os criminosos convidam o 'colaborador' a finalmente receber o dinheiro, normalmente na Nigéria, mas pode variar. Lá, a vítima recebe o dinheiro. Em “notas pretas”. Os golpistas informam que as notas estão nesta condição por terem sido banhadas em uma solução e demonstram como a cobertura negra pode ser retirada. A vítima precisa adquirir o material para “limpar” as demais notas – e o custo disso pode ser de milhares de dólares. Mesmo que a vítima pague, ela irá apenas descobrir que as notas pretas são apenas papel negro.
Africanos foram presos em 2005 no Brasil com essas “notas”. O assunto intrigou peritos na época, e a fraude foi assunto em uma revista especializada (PDF).
Mas graças à internet, africanos também conseguem atuar diretamente no Brasil. Um dos golpes envolve filhotes de cachorros, normalmente de raças com alto valor de mercado. O cão estaria, supostamente, disponível para adoção gratuita, ou então venda muito abaixo do preço normal.
Anúncios de cães com idioma estranho e localização no Brasil: africanos aplicando o golpe na web brasileira.
Independentemente do tema, o golpe funciona sempre igual: uma oferta boa demais para ser verdade que é oferecida, inicialmente por um baixo custo. Normalmente, o golpe continua e novos “custos” ou problemas surgem, até o criminoso conseguir roubar muito dinheiro ou a vítima desistir.
Fonte: G1.com.br, por Altieres Rohr.
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