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Notícia: Ameaça invisível na rede


9/06/2009 | N° 10448 - Jornal Pioneiro - Caxias do Sul

INTERNET

Ameaça invisível na rede

Cada vez mais, os crimes têm migrado para a internet. No Brasil, as fraudes e a pedofilia são os principais delitos registrados. No RS, a polícia capacita agentes desde 2007, mesmo sem a existência de delegacia especializada. Em Caxias, 30 policiais se formaram em um curso no mês passado

Caxias do Sul – Até 2024, a Polícia Federal (PF) pretende criar 27 unidades de repressão em todos os Estados do Brasil e capacitar mais policiais para investigar ações de criminosos virtuais. Mesmo sem estimativa, a corporação prevê uma explosão desses crimes nos próximos anos, por isso a preocupação com o treinamento e a repressão.

Em outra esfera, no Rio Grande do Sul, policiais civis passam desde 2007 por um curso sobre os crimes praticados na internet. Há três semanas, em Caxias do Sul, 30 policiais, entre agentes e delegados, participaram da capacitação na Faculdade da Serra Gaúcha (FSG). O curso foi ministrado pelo delegado Emerson Wendt, titular do Serviço de Interceptação de Sinais da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul.

Os principais crimes que os policiais estão sendo preparados para investigar são as fraudes bancárias e a exploração de crianças e adolescentes pela internet, a pedofilia. Por trás de uma tela de computador, os criminosos do mundo virtual utilizam as falhas de segurança em softwares e também lacunas deixadas pelas pessoas para praticar os crimes.

– No momento em que eu não tenho uma senha segura, um sistema operacional e um antivírus atualizados, eu estou completamente desprotegido para a navegação na internet – alerta Wendt.

Em Caxias, a Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA) recebe de um a dois casos por mês de crimes praticados pela internet. A delegada Suely Rech explica que a maioria dos casos é de calúnia, ameaça e difamação. Ela e outros dois servidores da delegacia participaram do curso.

– Nós temos investigações em andamento e a maioria dos casos envolve MSN, Orkut, criação de perfis falsos, ameaças, brigas em escolas e adolescentes enganados por outras pessoas para, por exemplo, enviar fotos nuas. Depois, os menores passam a ser ameaçados – cita a delegada.

Em um dos homicídios solucionados pela DPCA no ano passado, a internet foi o meio utilizado para combinar o crime. Dois adolescentes de 16 anos criaram um e-mail falso, fazendo-se passar por uma menina, e atraíram Felipe Dambros Marques, 16, para uma emboscada, no bairro Santa Corona.

– Nesse caso, a internet foi só um meio – destaca.

Desde o começo do ano, no Rio Grande do Sul, cinco casos de pedofilia foram registrados em todo o Estado, segundo o delegado Wendt. Contra esse delito, as polícias ganharam, em novembro de 2008, um importante meio de punição. Na data, entrou em vigor a lei que considera crime manter material pornográfico infantil, por intermédio da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, no Senado. Desde 2004, quando a PF passou a ter uma unidade específica para os crimes cibernéticos, três grandes operações foram realizadas no Brasil: Carrossel I e II e operação Turko.

Durante a Carrossel II, no ano passado, a Delegacia da PF de sede em Caxias do Sul, com abrangência regional, cumpriu um mandado de busca e apreensão em Bento Gonçalves para materiais de pedofilia. O computador apreendido foi enviado para análise em Brasília, onde está concentrado o trabalho de investigação dos crimes no país.

Porém, para os outros casos, a punição ainda é aplicada de acordo com o que está previsto no Código Penal. Em 2000, a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou um homem a pagar R$ 30 mil de indenização por dano moral para a ex-namorada. Ele utilizou o e-mail da mulher para divulgar fotos eróticas, além do telefone, da profissão e do nome dela.

Dados crescem anualmente – O Rio Grande do Sul registrou cerca de 1,8 mil crimes praticados na internet em 2008, segundo Wendt. Em todo o país, foram 17 milhões de denúncias. Os crimes virtuais também causam prejuízos financeiros. Em uma pesquisa informal realizada pelo setor de inteligência Polícia Civil no Estado, nos últimos três meses de 2008, calculou-se um prejuízo de R$ 150 mil por mês por causa dos delitos. Nas fraudes bancárias, estima-se que o dano seja de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões por ano.

Um decreto prevê uma delegacia especializada para combater crimes cibernéticos no Estado, ainda sem data para ser instalada. Para o final deste ano, está previsto um curso anti-hacker para os melhores alunos. O curso atual preparou os policiais para prestarem um atendimento geral das ocorrências. Uma das ferramentas ensinadas é trabalhar em parceria com advogados das vítimas.

– O advogado deve trabalhar junto com a polícia, porque é importante que se retire o material do ar, mas também é importante preservar as provas para se chegar à autoria do crime – orienta o delegado.


juliana.almeida@pioneiro.com

JULIANA ALMEIDA

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