* Eduardo Pascoal de Souza
Em nosso momento global, surge a interdisciplinaridade como um dos conceitos que deve servir de base à doutrina de inteligência policial.
Mas o que é interdisciplinaridade? Qual a sua importância para a Segurança Pública, e mais especificamente, para a inteligência policial?
A interdisciplinaridade é um método de compreensão da realidade em que o objeto de estudo é submetido à análise de segmentos particulares, sendo que da conjugação destes saberes haverá um entendimento abrangente, porém, preciso, daquilo que se pretende conhecer e compreender.
“A conseqüência de uma visão integradora do universo e do conhecimento humano, que tende a reunir em conjuntos cada vez mais abrangentes o que fica dissociado pela mente humana. A interdisciplinaridade trata da síntese ou correlação de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível de discurso caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais. ” (Cordeiro e Silva, 2005 apud SENASP/MJ, 2008, p.31).
A interdisciplinaridade é o atual modelo adotado pela educação, razão pela qual foi deslocada para a moderna gestão de conhecimento da administração pública e privada, assim, surge como novo método para o entendimento global da realidade.
“É levada a efeito quando se trata de resolver os grandes e complexos problemas colocados pela sociedade atual: guerra, fome, delinqüência, poluição dentre outros. Trata-se de reunir várias especialidades para encontrar soluções técnicas tendo em vista resolver determinados problemas, apesar das contingências históricas em constante mutação (Carlos, 2007, p.5).”
O fenômeno criminal em sua essência é pluridimensional e multidisciplinar, sendo que por conta da globalização, cresce em complexidade, assim, para ser abordado pelos ramos de atividades pertinentes, dentre eles o da inteligência policial, nada mais adequado que seja feito sob o conceito interdisciplinar.
Inclusive, nos meios em que se discute e pratica a Segurança Pública, é observada a tendência em interdisciplinar saberes, ou seja, estruturar, especializar e interagir conhecimentos, tudo a fim de que o Estado e a Sociedade Civil estejam aptos a lidar com a complexidade de situações que surgem nesta época.
Na polícia norte-americana, nota-se a preocupação de compor-se um quadro de servidores com perfil multidisciplinar, inclusive para a função de análise criminal, tipo de conhecimento que já é um pouco adiantado em relação ao Brasil, no que diz respeito à inteligência policial, senão vejamos:
"A situação da AC (lêia-se Análise Criminal) norte-americana e de alguns outros países é certamente distinta da que se pode determinar no Brasil, a começar pela própria formação básica do policial e do profissional de AC. O processo de treinamento policial nos EUA inclui, afora pré-requisitos específicos de nível de escolaridade (cada vez mais sendo exigido algum tipo de nível superior geral, ou específico em "justiça criminal")...(Dantas, Bair, Magalhães e Filipe, 2007, pag. 3).
Isto porque se verifica na Segurança Pública daquele país, o entendimento da necessidade de existir equipes adequadas para atuar, sob o enfoque interdisciplinar, em situações referentes ao fenômeno criminal.
"Tais processos de recrutamento, seleção, formação e especialização, fazem com que as instituições do setor possam estar também asseguradas de que seus policiais detenham os conhecimentos, técnicas, habilidades e atitudes necessárias para o exercício da atividade, em geral, bem como em áreas específicas como é o caso da AC."(Dantas, Bair, Magalhães e Filipe, 2007, pag. 3 e 4).
No Brasil se verificam algumas instituições em situações semelhantes, dentre elas a Polícia Federal e a Polícia Civil do Distrito Federal, instituições conhecidas por nortearem as suas atividades pela inteligência policial.
Ambas possuem um quadro de pessoal com formação superior e multidisciplinar, que compõem a variedade de cargos especializados das polícias judiciárias (Delegados, Escrivães, Peritos, Peritos-Papiloscopistas, Médicos-Legistas, Agentes de Polícia e Penitenciário).
Destaca-se a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, ante ao contexto apresentado, haja vista que pode se entender que a interdisciplinaridade é uma das razões pela qual esta organização, exige em seu concurso público a formação universitária geral, o que implica na construção de um quadro multidisciplinar de analistas.
Muitos irão se perguntar: qual a vantagem em termos agentes de segurança pública ou mais especificamente, analistas de inteligência policial, com distintas origens de conhecimento, como por exemplo, um proveniente na área de humanas e outro na de exatas?
Observa-se que a questão, dentro do conceito interdisciplinar, não diz respeito somente a conteúdos do conhecimento que os servidores multidisciplinares trazem à sua atividade, o que não deixa de ser relevante também, todavia, a situação vai além disso, uma vez que cada servidor traz consigo a experiência de um método científico próprio, uma maneira de orientar a sua visão para as coisas, pois sabemos que cada ciência pede abordagem particular para o seu exercício e desenvolvimento.
Convém esclarecer que interdisciplinaridade não está relacionada apenas à construção de quadro de servidores multidisciplinares, isto é apenas uma situação decorrente do conceito, que é muito amplo, a interdisciplinaridade ainda diz respeito à cultura organizacional e principalmente, a doutrina pertinente ao conhecimento de algo que é feito, na caso em discussão, a de inteligência policial.
REFERÊNCIAS
CARLOS, Jairo Gonçalves. Interdisciplinaridade: o que é isso?
Programas de Pós-Graduação da CAPES, Universidade de Brasília – UnB. Brasília: 2008. Disponível em: http://www.unb.br/ppgec/dissertacoes/proposicoes/proposicao_jairocarlos.pdf
DANTAS, George Felipe de Lima Dantas; BAIR, Sean; MAGALHÃES, Luiz Carlos e FILIPE, Alécio. Introdução à Análise Criminal. 2007. Disnponível em: http://www.fenapef.org.br/htm/docs/070620_introducao-a-analise-criminal.doc
FEDERAL, Academia de Polícia Civil do Distrito. Especialização em Atividade Policial Judiciária - Curso Especial de Polícia . Disciplina de Inteligência Policial - EaD/APCDF. 2008.
SENASP/MJ, Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Uso das Informações na Gestão de Ações da Segurança Pública. Programa Nacional de Segurança com Cidadania/Rede Nacional de Ensino à Distância - PRONASCI/EAD. 2008.
SENASP/MJ, Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Curso de Investigação Criminal 1. Programa Nacional de Segurança com Cidadania/Rede Nacional de Ensino à Distância - PRONASCI/EAD. Brasília: 2008.
SPINDOLA, Marcos. Metodologia do Trabalho de Pesquisa e Docência do Ensino Superior. Brasília: Ed. Fortium: 2008.
Fonte: Fórum de Segurança
Em nosso momento global, surge a interdisciplinaridade como um dos conceitos que deve servir de base à doutrina de inteligência policial.
Mas o que é interdisciplinaridade? Qual a sua importância para a Segurança Pública, e mais especificamente, para a inteligência policial?
A interdisciplinaridade é um método de compreensão da realidade em que o objeto de estudo é submetido à análise de segmentos particulares, sendo que da conjugação destes saberes haverá um entendimento abrangente, porém, preciso, daquilo que se pretende conhecer e compreender.
“A conseqüência de uma visão integradora do universo e do conhecimento humano, que tende a reunir em conjuntos cada vez mais abrangentes o que fica dissociado pela mente humana. A interdisciplinaridade trata da síntese ou correlação de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível de discurso caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais. ” (Cordeiro e Silva, 2005 apud SENASP/MJ, 2008, p.31).
A interdisciplinaridade é o atual modelo adotado pela educação, razão pela qual foi deslocada para a moderna gestão de conhecimento da administração pública e privada, assim, surge como novo método para o entendimento global da realidade.
“É levada a efeito quando se trata de resolver os grandes e complexos problemas colocados pela sociedade atual: guerra, fome, delinqüência, poluição dentre outros. Trata-se de reunir várias especialidades para encontrar soluções técnicas tendo em vista resolver determinados problemas, apesar das contingências históricas em constante mutação (Carlos, 2007, p.5).”
O fenômeno criminal em sua essência é pluridimensional e multidisciplinar, sendo que por conta da globalização, cresce em complexidade, assim, para ser abordado pelos ramos de atividades pertinentes, dentre eles o da inteligência policial, nada mais adequado que seja feito sob o conceito interdisciplinar.
Inclusive, nos meios em que se discute e pratica a Segurança Pública, é observada a tendência em interdisciplinar saberes, ou seja, estruturar, especializar e interagir conhecimentos, tudo a fim de que o Estado e a Sociedade Civil estejam aptos a lidar com a complexidade de situações que surgem nesta época.
Na polícia norte-americana, nota-se a preocupação de compor-se um quadro de servidores com perfil multidisciplinar, inclusive para a função de análise criminal, tipo de conhecimento que já é um pouco adiantado em relação ao Brasil, no que diz respeito à inteligência policial, senão vejamos:
"A situação da AC (lêia-se Análise Criminal) norte-americana e de alguns outros países é certamente distinta da que se pode determinar no Brasil, a começar pela própria formação básica do policial e do profissional de AC. O processo de treinamento policial nos EUA inclui, afora pré-requisitos específicos de nível de escolaridade (cada vez mais sendo exigido algum tipo de nível superior geral, ou específico em "justiça criminal")...(Dantas, Bair, Magalhães e Filipe, 2007, pag. 3).
Isto porque se verifica na Segurança Pública daquele país, o entendimento da necessidade de existir equipes adequadas para atuar, sob o enfoque interdisciplinar, em situações referentes ao fenômeno criminal.
"Tais processos de recrutamento, seleção, formação e especialização, fazem com que as instituições do setor possam estar também asseguradas de que seus policiais detenham os conhecimentos, técnicas, habilidades e atitudes necessárias para o exercício da atividade, em geral, bem como em áreas específicas como é o caso da AC."(Dantas, Bair, Magalhães e Filipe, 2007, pag. 3 e 4).
No Brasil se verificam algumas instituições em situações semelhantes, dentre elas a Polícia Federal e a Polícia Civil do Distrito Federal, instituições conhecidas por nortearem as suas atividades pela inteligência policial.
Ambas possuem um quadro de pessoal com formação superior e multidisciplinar, que compõem a variedade de cargos especializados das polícias judiciárias (Delegados, Escrivães, Peritos, Peritos-Papiloscopistas, Médicos-Legistas, Agentes de Polícia e Penitenciário).
Destaca-se a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, ante ao contexto apresentado, haja vista que pode se entender que a interdisciplinaridade é uma das razões pela qual esta organização, exige em seu concurso público a formação universitária geral, o que implica na construção de um quadro multidisciplinar de analistas.
Muitos irão se perguntar: qual a vantagem em termos agentes de segurança pública ou mais especificamente, analistas de inteligência policial, com distintas origens de conhecimento, como por exemplo, um proveniente na área de humanas e outro na de exatas?
Observa-se que a questão, dentro do conceito interdisciplinar, não diz respeito somente a conteúdos do conhecimento que os servidores multidisciplinares trazem à sua atividade, o que não deixa de ser relevante também, todavia, a situação vai além disso, uma vez que cada servidor traz consigo a experiência de um método científico próprio, uma maneira de orientar a sua visão para as coisas, pois sabemos que cada ciência pede abordagem particular para o seu exercício e desenvolvimento.
Convém esclarecer que interdisciplinaridade não está relacionada apenas à construção de quadro de servidores multidisciplinares, isto é apenas uma situação decorrente do conceito, que é muito amplo, a interdisciplinaridade ainda diz respeito à cultura organizacional e principalmente, a doutrina pertinente ao conhecimento de algo que é feito, na caso em discussão, a de inteligência policial.
REFERÊNCIAS
CARLOS, Jairo Gonçalves. Interdisciplinaridade: o que é isso?
Programas de Pós-Graduação da CAPES, Universidade de Brasília – UnB. Brasília: 2008. Disponível em: http://www.unb.br/ppgec/
DANTAS, George Felipe de Lima Dantas; BAIR, Sean; MAGALHÃES, Luiz Carlos e FILIPE, Alécio. Introdução à Análise Criminal. 2007. Disnponível em: http://www.fenapef.org.br/htm/
FEDERAL, Academia de Polícia Civil do Distrito. Especialização em Atividade Policial Judiciária - Curso Especial de Polícia . Disciplina de Inteligência Policial - EaD/APCDF. 2008.
SENASP/MJ, Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Uso das Informações na Gestão de Ações da Segurança Pública. Programa Nacional de Segurança com Cidadania/Rede Nacional de Ensino à Distância - PRONASCI/EAD. 2008.
SENASP/MJ, Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Curso de Investigação Criminal 1. Programa Nacional de Segurança com Cidadania/Rede Nacional de Ensino à Distância - PRONASCI/EAD. Brasília: 2008.
SPINDOLA, Marcos. Metodologia do Trabalho de Pesquisa e Docência do Ensino Superior. Brasília: Ed. Fortium: 2008.
Fonte: Fórum de Segurança
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